sábado, 26 de fevereiro de 2011

Como vamos colonizar outros planetas?

Nos livros de ficção científica e filmes, colonizar outros planetas parece fácil. Tudo o que você precisa fazer é dar um salto até o espaço em sua nave e você chega ao seu destino instantaneamente. Na realidade, nós não iremos colonizar o espaço em grandes saltos, mas em uma série de pequenos passos. É difícil imaginar isso agora, mas nos áureos tempos após Sputnik, os cientistas não sabiam se os seres humanos poderiam sobreviver por longos períodos no espaço. Os primeiros vôos em órbita levaram animais e não astronautas – e isso foi assim até que Yuri Gagarin, em 1961, montou em um foguete rumo ao espaço. O vôo histórico de Gagarin durou meros 108 minutos, mas marcou o início de outras extraordinárias e mais longas missões. Em meados da década de 1970, os astronautas já inclusive viviam em órbita em estações espaciais. Primeiro veio Skylab e Salyut, e depois, Mir. Na Mir, os cosmonautas continuaram a quebrar recordes de resistência no espaço. Musa Manarov e Vladimir Titov passaram um ano a bordo da estação espacial soviética no final dos anos 1980, mas a realização deles foi batida em 1995 por Valeri Polyakov que completou uma “turnê” de 438 dias no espaço. Hoje, a Estação Espacial Internacional (ISS) afirma com certeza de que há claras evidências de que os seres humanos podem viver indefinidamente em órbitas longe da nossa. Desde que a primeira tripulação chegou, no ano 2000, a ISS tem sido tripulada continuamente e tem, através de uma variedade de experimentos, produzido um vasto corpo de conhecimento sobre como alcançar autossuficiência no espaço. Nas próximas décadas, a NASA e outros programas espaciais internacionais esperam usar esse conhecimento como um trampolim para um destino além da atmosfera terrestre. Da atmosfera terrestre para a Lua é só um “pulinho” (relativamente falando). Desde que o programa Apollo colocou a Lua ao nosso alcance, estabelecer um posto lunar avançado pareceu ser o passo lógico seguinte. O satélite natural da Terra oferece inúmeras vantagens em relação à luas mais exóticas, como o Titã de Saturno. Primeiro, é relativamente perto, o que significa que as tripulações poderiam ir e vir em poucos dias. Também significa que a comunicação entre os colonizadores e os comandantes da missão na Terra não sofreriam atrasos significativos. A Lua também funcionaria como um aeroporto espacial ideal porque os foguetes seriam capazes de escapar de sua baixa gravidade sem gastar muita energia. Por fim, um observatório baseado na Lua tornaria mais fácil estudar o Universo e aprender mais sobre para onde nossas futuras viagens devem nos levar. Mas viver na Lua não seria, digamos assim, um piquenique. Sem atmosfera, ela possui temperaturas extremas, variando de 134°C ao meio dia a -170°C à noite. Sua superfície também é bombardeada constantemente por micrometeoritos e raios cósmicos. Para sobreviver a este ataque, os colonizadores teriam que viver sob o solo lunar. Depois há a questão de comida e água. Os cientistas acreditam que a água está enterrada no solo no pólo sul lunar, mas terão que ser construídas instalações próprias para extraí-la. E cultivar plantas nas longas noites lunares, sem insetos para trabalhar na polinização, pode ser algo bem difícil. Apesar destes desafios, vários países estão tentando colocar seres humanos de volta à Lua. O programa da NASA conhecido como Constellation pretende colocar seres humanos na Lua usando uma nova geração de naves espaciais – os foguetes Ares, o veículo tripulado Orion, e o Módulo Lunar Altair. O lançamento tinha como meta o início de 2020 até que o presidente Obama interrompeu o programa no início de 2010. Entretanto, alguns membros do Congresso Norte-Americano têm argumentado contra a desmantelação do programa Constellation, que poderia, na teoria, revitalizar o sonho de construir um posto lunar avançado com sucesso. Alguns cientistas acham que deveríamos ignorar a Lua e focar nossos esforços em Marte. Um dos que mais apóiam esta estratégia é Robert Zubrin, fundador e presidente da Sociedade de Marte (Mars Society, em inglês). Em 1996, ele expôs os detalhes de uma missão à Marte que poderia servir de modelo para viagens tripuladas ao planeta vermelho. Aqui vai como isso funcionaria. O primeiro lançamento levaria um veículo não tripulado (Earth Return Vehicle, ERV, em inglês) à Marte. Este veículo conteria um reator nuclear que por sua vez forneceria potência para uma unidade de processamento químico capaz de produzir propelente usando compostos encontrados na atmosfera marciana. Dois anos depois, outro veículo não tripulado seria lançado para um segundo local de pouso. Ao mesmo tempo, uma nave espacial tripulada faria a viagem e pousaria próxima ao local onde o primeiro veículo tripulado havia pousado. A tripulação permaneceria em Marte por 18 meses, explorando o planeta e realizando experimentos até que fosse a hora de voltar para a Terra usando combustível fabricado no local. Assim que a tripulação tenha partido, outra equipe chegaria ao local, e o processo se repetiria até que uma sequência de bases fosse estabelecida. Um estabelecimento a longo prazo em Marte, no entanto, exigiria uma transformação do planeta, processo conhecido como terraformação. A terraformação envolve o aquecimento de Marte para que ele tenha condições mais parecidas com a Terra. A única maneira de fazer isso realisticamente falando é através da construção de unidades de processamento de solo que bombeariam supergases como o metano e a amônia na atmosfera de Marte. Esses gases absorveriam a energia solar e aqueceriam o planeta, provocando a liberação de gás carbônico do solo e das calotas polares. Com o acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera, a pressão atmosférica aumentaria, acarretando ainda um maior aquecimento e formação de oceanos. Eventualmente os astronautas poderiam ser capazes de sobreviver sem seus trajes espaciais, embora ainda teriam que usar tanques de oxigênio. Depois de décadas de terraformação, o planeta vermelho pode vir a parecer tão azul e cheio de água como nosso planeta. E depois de mais tempo ainda, ele pode vir a se transformar completamente em um ambiente parecido com a Terra – rico em oxigênio. Se...e quando isso ocorrer, o planeta será capaz de receber uma próspera colônia de seres humanos – alguns dos quais certamente virarão seus rostos para o céu e sonharão com viagens aos mais remotos cantos do Sistema Solar.

Créditos: Uol Ciência

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