O enxame de galáxias recentemente descoberto foi apelidado de El Gordo. É composto por dois sub-enxames separados de galáxias em colisão com uma velocidade de vários milhões de quilômetros por hora, e que se encontram tão afastados de nós que a sua luz teve que viajar durante bilhões de anos para chegar até à Terra. “Este enxame tem mais massa, é mais quente e emite mais raios-X do que qualquer outro enxame encontrado a esta distância ou a distâncias ainda maiores,” disse Felipe Menanteau da Universidade Rutgers, que liderou este estudo. “Dedicamos muito do nosso tempo de observação ao El Gordo e estou contente por termos conseguido descobrir este espantoso enxame em colisão.” Os enxames de galáxias são os maiores objetos mantidos pela força da gravidade que existem no Universo. O processo da sua formação, a partir de grupos de galáxias menores que se fundem, depende muito da quantidade de matéria escura e energia escura do Universo nesse momento. Por isso mesmo, o estudo dos enxames ajuda-nos a compreender melhor estas misteriosas componentes do cosmos. “Enxames de galáxias gigantescos como este são exatamente o que estávamos à procura,” disse o membro da equipe Jack Hughes, também da Universidade Rutgers. “Queremos ver se conseguimos compreender como se formam estes objetos tão extremos, utilizando os melhores modelos cosmológicos disponíveis hoje em dia.” A equipe, liderada por astrônomos chilenos e da Universidade Rutgers, descobriu o El Gordo ao detectar uma distorção da radiação cósmica de fundo de microondas. Este brilho tênue é o resto da primeira radiação vinda do Big Bang, a origem do Universo muito densa e extremamente quente há cerca de 13.7 bilhões de anos. Esta radiação que resta do Big Bang, interaje com os elétrons do gás quente dos enxames de galáxias, distorcendo a aparência do brilho de fundo de microondas visto a partir da Terra. Quanto maior e mais denso for o enxame, maior será este efeito. O El Gordo foi descoberto num rastreio da radiação de fundo feito pelo Atacama Cosmology Telescope. O Very Large Telescope do ESO foi utilizado pela equipe para medir as velocidades das galáxias nesta enorme colisão de enxames e também para medir a sua distância à Terra. Adicionalmente, o Observatório de raios-X Chandra da NASA foi utilizado para estudar o gás quente no enxame. Embora o tamanho e a distância do enxame El Gordo sejam bastante invulgares, os autores dizem que os novos resultados são, ainda assim, consistentes com a atual idéia de um Universo que começou com o Big Bang e que é essencialmente constituído por matéria escura e energia escura. O El Gordo formou-se, muito provavelmente, de forma semelhante ao Enxame Bala, o espetacular enxame de galáxias em interação que se encontra a quase quatro bilhões de anos-luz mais próximo da Terra. Em ambos os enxames há evidências de que a matéria normal, constituída principalmente por gás quente brilhando em raios-X, foi arrancada da matéria escura. O gás quente é desacelerado pela colisão, o mesmo não acontecendo à matéria escura. “Esta é a primeira vez que encontramos um enxame como o Enxame Bala a uma distância tão grande, “ disse Cristóbal Sifón, estudante da Pontificia Universidad Católica de Chile (PUC) em Santiago. “É como diz o velho provérbio: Se queres perceber para onde vais, tens primeiro de saber de onde vieste.”
Créditos: ESO
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