quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Naves, Anunakis e Nibiru. A fértil imaginação nas imagens do Sol

O satélite solar SOHO é um dos mais importantes telescópios espaciais e o principal responsável pelos estudos mais modernos do Sol. No entanto, é também o que de longe provoca mais a imaginação do público leigo, que vê em suas imagens desde cometas inexistentes até naves espaciais secretas. É praticamente impossível passar um único dia sem recebermos algum email questionando sobre os "estranhos" pontos e traços que aparecem nas imagens do telescópio solar SOHO. Daria até pra escrever um livro sobre o assunto, quem sabe até uma tese de doutorado tentando explicar o fascínio que essas imagens provocam na imaginação popular. Não sabemos ao certo como funciona o mecanismo que leva os observadores a acreditar que as partículas cósmicas ou os micro meteoróides que cruzam ou se chocam contra o telescópio são na verdade naves espaciais ou seres extraterrestres. E não adianta responder aos emails explicando sobre a natureza desses objetos. O interessado não acredita. Nunca. Acreditamos que o maior problema para a compreensão das imagens seja a de o observador não entender que o telescópio SOHO não registra cenas no comprimento de onda visível, mas em seguimentos muito mais energéticos, principalmente o ultravioleta e raios-x e que o Universo está repleto de partículas carregadas com alto nível de energia. Essas partículas - os prótons e elétrons - têm sua origem em explosões estelares muito intensas chamadas supernovas, que arremessam as partículas em todas as direções do Universo em velocidades próximas à da luz. Quando essas partículas se chocam contra o elemento sensível do telescópio - o CCD - perdem sua energia, que se espalha em diversos comprimentos de onda entre eles o ultravioleta. O resultado são os pontinhos luminosos que aparecem nas imagens do telescópio. Por uma dessas coincidências da natureza, eventualmente o telescópio recebe um verdadeiro bombardeio cósmico e diversas partículas atingem áreas adjacentes do sensor ao mesmo tempo. Isso cria uma espécie de borrão formado pelos inúmeros pontos, mas que na visão dos observadores leigos se transforma em naves espaciais ou no hipotético planeta Nibiru. Outro elemento que causa muita confusão entre o público leigo são os traços que surgem em um único fotograma produzido pelo telescópio. Neste caso, a imaginação fértil faz o leigo acreditar que se trata de cometas ou então de uma nave espacial gigante ou de seu rastro, que está trazendo mais "Anunakis" para o mundo subterrâneo. Ou coisa parecida. Tentar explicar que esses traços são provavelmente causados por micro meteoróides é pura perda de tempo, mas vamos tentar. O espaço é um lugar muito perigoso e centenas de micro pedrinhas (os micro meteoróides) cruzam aleatoriamente todos os lugares a todo o momento. Estima-se que a Estação Espacial Internacional, a ISS, recebe o impacto diário de cerca de 200 micro meteoróides por dia, a maior parte deles com cerca de 1 centésimo do tamanho de um grão de areia. Se a ISS tivesse uma câmera fixa similar a do SOHO apontada para o espaço, produziria traços muito semelhantes. No caso do SOHO, os micro meteoróides vistos cruzando a imagem não estão a milhares de km de distância do CCD. Quando passam bem perto, o suficiente para refletirem a luz do Sol, são interpretados pelo CCD como um traço brilhante e fino, que pode vir de qualquer direção do espaço. Diferente das partículas carregadas, que com raríssimas exceções nunca aparecem em dois fotogramas sucessivos, os micro meteoróides podem aparecem em dois frames com intervalos máximos de 10 minutos, dependendo da distância ao telescópio e do ângulo da luz incidente. Mesmo assim, também são casos raros.
Nota importante:
Entendemos que muitas pessoas têm suas crenças e convicções e temos profundo respeito por isso. Também sabemos que não será um artigo como esse que fará essas pessoas mudarem seus pontos de vista sobre este assunto. No entanto, cabe a nós, por sermos um portal científico, explicar esse e outros fenômenos da forma como eles realmente são e não da forma como gostaríamos que fossem, apesar de muitas vezes serem até mais interessantes.

Créditos: Apolo 11

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