Discussões religiosas de lado, a ciência estabeleceu claramente que a Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos. Quem definiu isso? O geofísico Clair Patterson, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (conhecido como Caltech), em 1955. Naquele ano, Patterson publicou um estudo no periódico “Geochimica et Cosmochimica Acta”, que relatava proporções de chumbo encontradas em um meteorito em Canyon Diablo (um cânion que fica em Arizona, EUA). Os meteoritos de ferro encontrados nesta região são pedaços que sobraram de um único grande meteorito que criou a Cratera de Meteoro no Arizona cerca de 50.000 anos atrás. Mais importante ainda, eles são também restos da formação do sistema solar, que antes da publicação do trabalho de Patterson, não tinha data mais exata do que “bilhões de anos atrás”. Conforme Patterson explicou em uma entrevista no ano em que morreu, os meteoritos de Canyon Diablo não continham qualquer urânio, um metal que radioativamente decai em chumbo em taxas já bem estabelecidas pela ciência, que levam centenas de milhões de anos. Outras rochas continham chumbo e urânio, o que anteriormente tinha atrapalhado as estimativas de idade da Terra. Assim, ao relatar a proporção de taxa de chumbo encontrada nesses meteoritos “imaculados” e comparando-os com as proporções encontradas nas outras rochas e meteoritos da Terra, Patterson foi capaz de calcular a idade do sistema solar quando a Terra se formou: 4,55 bilhões de anos, com uma margem de erro de 70 milhões de anos. Essa estimativa sobrevive correta já faz cinco décadas. Ao longo do tempo, foi refinada e confirmada por outras investigações e só ficou mais sólida. Argumentos e discussões sobre a idade da Terra (seja por motivos religiosos ou por “negadores”) irritam e decepcionam muito geoquímicos como Francis Albarede, da École Normale Supérieure, na França, um especialista sobre a geologia dos planetas. “Eu entendo que temos de ser sensíveis aos sentimentos das pessoas, mas, com toda a honestidade, não há nenhum cientista sério que não reconheça todas as evidências de que a Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos”, diz. “Não há desculpa para ensinar qualquer coisa diferente a nossas crianças”. Clair Cameron Patterson (1922 – 1995) foi mais do que um geoquímico americano. Apesar de ter descoberto a idade da Terra – o que com certeza é um grande feito -, ele se importava mais com outras coisas, como o meio ambiente e a saúde das pessoas. Tanto que creditou o seu trabalho (e a descoberta) aos cientistas que vieram antes dele. Ao invés de se focar em ser o “bam bam bam”, ele se dedicou a luta contra o chumbo em produtos como tinta e gasolina por décadas. Seu principal interesse era química ambiental. A capacidade de detectar traços de chumbo em rochas de bilhões de anos de idade permitiu que Patterson percebesse que a Era Industrial estava inundada em chumbo. Em 1965, ele relatou que o chumbo na gasolina, solda, pintura e pesticidas aumentava os níveis da substância na corrente sanguínea da maioria dos americanos em 100 vezes mais do que o normal, um resultado que levou a audiências no Congresso americano e desacordos com os cientistas empregados pela indústria do petróleo. Analisando múmias peruanas de 1.600 anos, ele denunciou, em 1975, que as pessoas modernas estavam expostas a milhares de vezes mais chumbo do que no passado – níveis próximos de serem venenosos, com efeitos debilitantes sobre o cérebro, rins e quase todos os outros órgãos. A luta levou à remoção do chumbo em muitos produtos modernos. E, nas décadas desde suas descobertas, os cientistas só chegam à conclusão de que o chumbo parece cada vez mais perigoso. A Agência de Substâncias Tóxicas e Registro de Doenças diz que a exposição, mesmo que pouca, à chumbo pode afetar a inteligência das crianças. Pó de chumbo também já foi ligado à violência. Se hoje a indústria tem que limitar seu uso de chumbo, o mundo todo tem que agradecer a Patterson por isso. “Patterson é um exemplo muito claro da ligação entre a ciência básica que parece sem relação com a vida cotidiana, a idade da Terra e a ciência que faz uma diferença crucial em cada momento em nossas vidas diárias”, afirma o geólogo John Eiler, do Caltech.
Créditos: Hypescience
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