terça-feira, 16 de julho de 2013

Ecografia obtida pelo ALMA revela embrião de uma estrela monstruosa

Novas observações obtidas pelo ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) deram aos astrônomos a melhor vista de sempre de uma estrela gigantesca a formar-se no seio de uma nuvem escura. Descobriu-se um útero estelar com cerca de 500 vezes a massa do Sol - o maior alguma vez descoberto na Via Láctea - que ainda está a crescer. A estrela embrionária no seio da nuvem alimenta-se vorazmente do material que cai para o interior. Pensa-se que esta nuvem irá dar origem a uma estrela muito brilhante com uma massa que poderá atingir as 100 massas solares. As estrelas mais brilhantes e de maior massa da nossa Galáxia formam-se no interior de nuvens escuras e frias, no entanto este processo mantém-se envolto tanto em poeira como em mistério. Uma equipe internacional de astrônomos utilizou o ALMA para fazer uma ecografia em microondas de modo a ter uma idéia mais clara sobre a formação de uma destas estrelas gigantescas, localizada a cerca de 11.000 anos-luz de distância, numa nuvem conhecida como SDC (Spitzer Dark Cloud) 335.579-0.292. Existem duas teorias para a formação de estrelas de massa muito elevada. Uma sugere que a nuvem escura progenitora fragmenta-se, criando vários núcleos pequenos que colapsam por si próprios, formando eventualmente estrelas. A outra é mais dramática: uma nuvem inteira começa a colapsar, com o material a deslocar-se rapidamente para o centro da nuvem, criando nessa região uma ou mais estrelas de massa muito elevada. A equipe liderada por Nicolas Peretto do CEA/AIM Paris/Saclay, França e Universidade de Cardiff, Reino Unido, compreendeu que o ALMA era a ferramenta perfeita para descobrir o que se está realmente a passar no interior destas nuvens. Com o auxílio do Telescópio Espacial Spitzer da NASA e do Observatório Espacial Herschel da ESA, SDC 335.579-0.292 revelou-se inicialmente como sendo um ambiente dramático de filamentos de gás escuros e densos. Agora a equipe usou a sensibilidade única do ALMA para observar em detalhe, tanto a quantidade de poeira como o movimento do gás a deslocar-se no interior da nuvem escura, e descobriu um verdadeiro monstro. "As observações ALMA permitiram-nos ver pela primeira vez com todo o pormenor o que se passa no interior desta nuvem," diz Peretto. "Queríamos ver como é que estrelas monstruosas se formam e crescem, e conseguimos! Uma das fontes que encontramos é uma verdadeira gigante - o maior núcleo protoestelar alguma vez encontrado na Via Láctea." Este núcleo - o útero da estrela embrionária - tem mais de 500 vezes a massa do nosso Sol serpenteando no seu interior. E as observações ALMA mostram que muito mais matéria está ainda a ser acretada, aumentando esta massa ainda mais. Todo este material eventualmente colapsará para formar uma estrela jovem que poderá atingir as 100 massas solares - um monstro muito raro. "Embora soubéssemos já que esta região era uma boa candidata a uma nuvem a formar estrelas de grande massa, não esperávamos encontrar uma estrela embrionária tão grande no seu centro," diz Peretto. "Pensa-se que este objeto formará uma estrela que pode atingir as 100 massas solares. De todas as estrelas da Via Láctea, apenas uma em cada dez mil atinge este tipo de massa!" "Estas estrelas não são apenas raras, mas o seu nascimento é também extremamente rápido e a sua infância é muito curta. É por isso que encontrar um objeto com tanta massa numa fase tão inicial da sua evolução é, de fato, um resultado espetacular," acrescenta o membro da equipe Gary Fuller da Universidade de Manchester, Reino Unido. Outro membro da equipe, Ana Duarte Cabral do Laboratoire d´Astrophysique de Bordeaux, França, realça que "as observações do ALMA revelam os detalhes espetaculares dos movimentos da rede de filamentos de gás e poeira e mostram que uma enorme quantidade de gás se está a deslocar para a região central compacta". Este fato apoia fortemente a teoria do colapso global para a formação de estrelas de grande massa, em vez da fragmentação. Estas observações foram obtidas durante a fase de Ciência Preliminar do ALMA, quando se usava apenas um-quarto da rede total de antenas. "Conseguimos estas observações muito pormenorizadas utilizando apenas uma fração do poder do ALMA," conclui Peretto. "O ALMA irá claramente revolucionar o nosso conhecimento da formação estelar, resolvendo alguns dos problemas atuais e levantando certamente novas questões."

Fonte: Astronomia On-line

Nenhum comentário:

Postar um comentário