domingo, 12 de janeiro de 2014

Morte por buraco negro numa galáxia anã?

Um surto brilhante e de longa duração pode ser o primeiro evento registado de um buraco negro destruindo uma estrela numa galáxia anã. A evidência vem de dois estudos independentes usando dados do Observatório de raios-X Chandra da NASA e de outros telescópios. Como parte de uma busca contínua nos dados de arquivo do Chandra em busca de eventos que assinalam a perturbação de estrelas por buracos negros massivos, os astrônomos descobriram um candidato excelente. A partir de 1999, uma fonte de raios-X invulgarmente brilhante havia aparecido numa galáxia anã, depois desvanecendo até que deixou de ser detectada para lá de 2005. "Não podemos ver a estrela sendo dilacerada pelo buraco negro," afirma Peter Maksym da Universidade do Alabama em Tuscaloosa, EUA, que liderou um dos estudos, "mas podemos seguir o que acontece aos restos da estrela, e comparar com outros eventos semelhantes. Este encaixa-se no perfil de 'morte por buraco negro'". Os cientistas prevêem que uma estrela que vagueia demasiado perto de um buraco negro gigante ou supermassivo possa ser despedaçada por forças de maré extremas. À medida que os destroços estelares caem na direção do buraco negro, são aquecidos a milhões de graus e produzem raios-X intensos. Os raios-X diminuem de uma forma característica à medida que o gás quente espirala. Nos últimos anos, o Chandra e outros satélites astronômicos identificaram vários casos suspeitos de um buraco negro supermassivo a rasgar uma estrela próxima. Este episódio recém-descoberto de violência cósmica induzida por um buraco negro é diferente porque foi associado com uma galáxia muito menor que nos outros casos. A galáxia anã está localizada no enxame galático Abell 1795, a cerca de 800 milhões de anos-luz da Terra. Contém cerca de 700 milhões de estrelas, bem menos que uma típica galáxia como a Via Láctea, que tem entre 200 e 400 bilhões de estrelas. Além disso, o buraco negro nesta galáxia anã pode ter apenas algumas centenas de milhares de vezes a massa do Sol, o que o torna dez vezes menos massivo que o buraco negro supermassivo no centro da Via Láctea e coloca-o na categoria que os astrônomos apelidam de "buraco negro de massa intermediária". "Os cientistas têm procurado estes buracos negros de massa intermediária ao longo das décadas," afirma Davide Donato do Centro de Vôo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no estado americano do Maryland, que liderou uma equipe separada de cientistas. "Temos muitas evidências de buracos negros pequenos e supermassivos, mas estes médios têm sido difíceis de detectar." A evidência de uma estrela sendo despedaçada pelo buraco negro de uma galáxia anã veio do estudo de dados de arquivo do Chandra, obtidos ao longo de vários anos. Dado que Abell 1795 é um alvo que o Chandra observa regularmente para ajudar a calibrar os seus instrumentos, os investigadores tiveram acesso a um reservatório invulgarmente grande de dados sobre este objeto. "Tivemos muita sorte em ter tantos dados sobre Abell 1795 durante um longo período de tempo," realça o co-autor de Donato, Brad Cenko, do mesmo centro da NASA. "Sem eles, nunca poderíamos ter descoberto este evento especial." A localização da galáxia anã num enxame também a torna numa potencial vítima de outro tipo de violência cósmica. É possível que, tendo em conta que os enxames galáticos estão repletos de galáxias, um grande número de estrelas tenham sido expelidas da galáxia anã devido a interações gravitacionais com outra galáxia no passado. "Parece que as estrelas nesta galáxia não precisam apenas de se preocupar com o buraco negro no centro," afirma Melville Ulmer, co-autor de Makysm da Universidade Northwestern em Evanston, no estado americano do Illinois. "Também pode ser raptadas pela gravidade de uma galáxia próxima." Os astrônomos acreditam que os buracos negros de massa intermediária podem ser as "sementes" que acabam por formar os buracos negros supermassivos nos centros de galáxias como a Via Láctea. Precisamos de encontrar mais exemplos próximos para aprender mais sobre como estas galáxias primordiais do Universo jovem cresceram e evoluíram ao longo do tempo cósmico. Algumas das pistas adicionais deste ataque estelar vieram do EUVE (Extreme Ultraviolet Explorer) da NASA que detectou uma fonte ultravioleta muito brilhante em 1998, que pode ter marcado o momento logo após o início da destruição da estrela. Um surto de raios-X poderá também ter sido detectado com o satélite XMM-Newton da ESA em 2000.

Créditos: Astronomia On-line

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