segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Astrônomos explicam formação de família esquisita de asteróides

O caráter atípico da família de asteróides de Eufrosina - uma das várias situadas entre os planetas Marte e Júpiter, que durante anos intrigou os astrônomos - acaba de ser explicado pela equipe liderada por Valério Carruba, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Guaratinguetá. A peculiaridade dessa família, composta por mais de 2,5 mil objetos, vem do fato de que - exceto pelo asteróide principal, Eufrosina, que dá nome ao grupo - ela tem poucos asteróides grandes ou médios, com diâmetros entre 8 e 12 quilômetros. O Eufrosina concentra 99% da massa da família. Os demais objetos são muito pequenos. Alguns asteróides do cinturão principal - entre as órbitas de Marte e Júpiter - são agrupados em famílias, cada uma das quais supostamente originada a partir de um corpo progenitor, fragmentado após colisões com outros corpos. Mas a família Eufrosina parecia muito estranha. "Isso porque, usualmente, as famílias tendem a perder com muito mais facilidade os objetos pequenos, desgarrados do grupo durante sua evolução dinâmica. Então, uma família com tantos objetos pequenos, poucos corpos de tamanho médio, e um único objeto grande constituía, realmente, uma situação bastante original," explicou o pesquisador. A explicação para a formação pouco usual da família Eufrosina foi encontrada em um fenômeno conhecido como ressonância de movimento médio ν6 - lê-se nu6, onde ν é a minúscula da letra grega equivalente ao N. Foi uma ressonância que recentemente ajudou os astrônomos a levantar a hipótese da existência de mais dois planetas gigantes no Sistema Solar. Uma outra ressonância ajudou a inocentar uma família de asteróides pela extinção dos dinossauros. "Exemplo clássico de ressonância é a que existe nas lacunas de Kirkwood, no cinturão de asteróides. Quando o período de revolução do asteróide [o tempo que leva para dar uma volta completa ao redor do Sol] é igual a duas vezes o período de revolução de Júpiter, as perturbações deste planeta sobre o asteróide se repetem periodicamente, e podem causar aumentos na excentricidade da órbita do asteróide, levando a instabilidades", explicou Carruba. "O que nos chamou de imediato a atenção foi o fato de Eufrosina ser a única família de asteróides cruzada no meio pela ressonância ν6", acrescentou o pesquisador. Segundo ele, a ν6 é uma das ressonâncias mais poderosas do Sistema Solar: "Muitos objetos que interagem com essa ressonância são rapidamente perdidos, porque ela aumenta a excentricidade de suas órbitas, fazendo com que se choquem com os planetas ou com o Sol." Como a ressonância ν6 atravessa a família de Eufrosina praticamente no meio, a região central é a que sofre maior influência. E essa região é justamente aquela onde se encontram os objetos maiores. A equipe então realizou uma simulação em computador de um conjunto fictício de asteróides circulando na mesma região durante um bilhão de anos. Bingo: o resultado é exatamente uma família tal como a Eufrosina, sem a necessidade de qualquer impacto tangencial com outros corpos, como se sugeria anteriormente - de resto uma explicação considerada inadequada pela equipe porque impactos tangenciais são extremamente raros. "Ela pode ter-se formado naturalmente, em função da dinâmica local, adquirindo a configuração observada", concluiu Carruba.


Fonte: Inovação Tecnológica

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