terça-feira, 7 de outubro de 2014

Inflação cósmica balança, multiverso ganha firmeza

O mapa do céu gerado pelo Planck mostra regiões mais empoeiradas (vermelho) e menos empoeiradas (azul). A região observada pelo BICEP2 (retângulo preto) não está entre as menos empoeiradas, o que deve explicar uma porção substancial dos resultados interpretados como ondas gravitacionais (polarizações de modos B).

Em Março deste ano, uma equipe de astrofísicos norte-americanos anunciou ter detectado ondas gravitacionais que reforçariam a teoria do Big Bang, eventualmente a primeira comprovação experimental da inflação cósmica. Em Junho, porém, quando o artigo foi revisado por outros cientistas e publicado, a equipe já admitia que os sinais eventualmente detectados poderiam ser parcialmente devidos à poeira cósmica da nossa própria galáxia. Agora, os resultados preliminares da equipe do telescópio espacial Planck confirmam que a área observada pelo BICEP2 tem poeira suficiente para invalidar as conclusões iniciais, ao menos em parte. Contudo, a surpresa é que agora outros físicos estão defendendo que, além de não comprovar a inflação cósmica, os resultados obtidos na verdade descartam esse processo essencial para o modelo do Big Bang e reforçam uma hipótese oposta - a chamada teoria dos multiversos. David Parkinson e seus colegas da Universidade de Queensland, na Austrália, afirmam que, já descartada a poeira, qualquer sinal de ondas gravitacionais que possa ter sido detectado pelo BICEP2 - a chamada polarização de modos B - na verdade descarta qualquer "forma razoável de teoria inflacionária". A referência a "formas razoáveis" de uma teoria lembra que, nesse campo, há muito mais conjecturas do que sequer hipóteses - quanto menos teorias. São essencialmente modelos matemáticos, que alguns físicos afirmam ser "tão ultrassimplificados" que não poderiam ser usados para sugerir qualquer indício detectável experimentalmente - aí incluídas as ondas gravitacionais. De qualquer forma, é o melhor que temos hoje. Ocorre que a equipe australiana afirma que mesmo os melhores desses modelos são descartados pelas observações. "O que a inflação [cósmica] prevê é justamente o reverso do que nós descobrimos. Quantos modelos inflacionários [os dados] descartam? A maioria deles, para ser honesto," disse Parkinson. O artigo de Parkinson e seus colegas foi colocado no repositório arXiv, mas ainda não foi analisado profundamente por outros cientistas - e mesmo esta análise dependerá dos resultados finais da equipe do telescópio Planck, que está se mostrando extremamente cuidadosa em suas análises, e só deverá publicar os resultados finais este mês. Katherine Mack, astrofísica da Universidade de Melbourne, concorda que encaixar os modelos de inflação cósmica nos dados do BICEP2 exige tantos "truques matemáticos" que se perde a chamada relação de consistência da inflação, "algo que é considerado absolutamente básico para a inflação," disse ela - essa relação de consistência correlaciona a amplitude das ondas gravitacionais primordiais com a distribuição de matéria no Universo. "O problema mais profundo é que, uma vez que a inflação começa, ela não termina da forma como estes cálculos simplistas sugerem," disse defende Paul Steinhardt, da Universidade de Princeton, um dos criadores da teoria inflacionária, em entrevista à revista New Scientist. "Em vez disso, devido à física quântica, ela leva a um multiverso, onde o universo se divide em um número infinito de fragmentos. Os fragmentos incluem todas as propriedades concebíveis conforme você vai de um para o outro. Assim, não faz nenhum sentido dizer o que a inflação prevê, exceto dizer que ela prediz tudo. Se for fisicamente possível, então acontece no multiverso," explica ele. Steinhardt acha que não vale a pena introduzir "um multiverso de possibilidades" para explicar a inflação - mas também que a inflação não é a explicação simples e convincente que todos estão procurando. Opiniões à parte - os fóruns de física neste momento têm delas para todos os gostos - o fato é que todos terão que aguardar ansiosamente os resultados do Planck ainda este mês, e então ver quais truques matemáticos serão possíveis para cada um manter viva a teoria de sua preferência - e quais delas terão que ceder às evidências. Por enquanto, a "comunidade dos multiversos" parece estar ganhando força.


Créditos: Inovação Tecnológica

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