domingo, 16 de dezembro de 2018

Uma serpente cósmica

O VLT do ESO captura detalhes de um elaborado sistema serpenteante esculpido por ventos estelares a colidir.
O instrumento VISIR montado no Very Large Telescope do ESO capturou esta imagem de um sistema estelar triplo massivo recentemente descoberto.
Apelidado Apep, como a antiga divindade egípcia, este sistema pode muito bem ser o primeiro progenitor de explosões de raios gama a ser descoberto.
Esta espiral serpenteante, capturada pelo instrumento VISIR montado no Very Large Telescope do ESO (VLT), enfrenta um futuro explosivo; trata-se de um sistema de estrelas Wolf-Rayet, uma fonte provável de um dos fenômenos mais energéticos do Universo — uma explosão de raios gama de longa duração.
“Esta é a primeira vez que descobrimos um tal sistema na nossa própria Galáxia,” explica Joseph Callingham, do Instituto Holandês de Rádio Astronomia (ASTRON), autor principal do estudo que descreve este sistema, “Nunca esperamos encontrar um sistema destes no nosso “quintal””.
O sistema, que contém um ninho de estrelas massivas rodeado por uma “girândola” de poeira, está catalogado como 2XMM J160050.7-514245, no entanto os astrônomos optaram por lhe dar o nome de “Apep”.
Apep era uma antiga divindade egípcia, uma serpente gigantesca que personificava o caos — o que se adequa perfeitamente a um sistema estelar tão violento e com uma forma sinuosa, reminiscente de uma serpente enroscada em torno das estrelas centrais. Os antigos egípcios acreditavam que Rá, o Deus-Sol, combatia com Apep todas as noites; rezar e venerar Rá garantia a sua vitória e o regresso do Sol.
As explosões de raios gama encontram-se entre as mais poderosas do Universo. Com uma duração de algumas milésimas de segundo a algumas horas, estas explosões podem libertar tanta energia como a que o Sol libertará durante toda a sua vida. Pensa-se que as explosões de raios gama de longa duração — as que duram mais de 2 segundos — são causadas por estrelas Wolf-Rayet em rotação rápida que explodem sob a forma de supernovas.
Algumas das estrelas mais massivas evoluem para estrelas Wolf-Rayet no final das suas vidas. Esta fase dura pouco, sendo que as Wolf-Rayet sobrevivem neste estado durante apenas algumas centenas de milhares de anos — um mero piscar de olhos em termos cosmológicos. Durante esse tempo, estas estrelas libertam enormes quantidades de matéria sob a forma de poderosos ventos estelares, lançando a matéria para o exterior com velocidades de milhões de km por hora; os ventos estelares de Apep estão a viajar à incrível velocidade de 12 milhões de km por hora.
Estes ventos estelares deram origem a elaboradas plumas que rodeiam o sistema estelar triplo — constituído por um sistema estelar binário e uma estrela individual companheira ligados gravitacionalmente. Apesar de apenas dois objetos do tipo estelar serem visíveis na imagem, a fonte inferior é de facto um binário Wolf-Rayet não resolvido. É precisamente este binário que é responsável por esculpir as espirais serpenteantes que rodeiam Apep, as quais se formam a partir dos ventos estelares em colisão das duas estrelas Wolf-Rayet.
Comparada com a velocidade extraordinária dos ventos de Apep, a girândola de poeira espirala para o exterior mais lentamente, com uma velocidade inferior a dois milhões de km por hora. Pensa-se que esta discrepância entre a velocidade dos ventos rápidos de Apep e da roda de poeira se deve a uma das estrelas do binário estar a lançar, em direções diferentes, tanto um vento rápido como um mais lento.
Isto significaria que a estrela apresenta uma rotação muito próxima da rotação crítica — isto é, roda tão rapidamente que está quase a autodestruir-se neste processo. Pensa-se que uma estrela Wolf-Rayet com tão elevada rotação produza explosões de raios gama de longa duração quando o seu núcleo colapsa no final da sua vida.

Créditos: AstroPT

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