De acordo com uma equipe de investigadores da Universidade de Maryland, EUA, a Voyager 1 parece ter finalmente saído do nosso Sistema Solar e entrado no espaço interestelar. Transportando saudações terrestres num fonógrafo banhado a ouro e instrumentos científicos ainda operacionais, a sonda Voyager 1 da NASA é o objeto mais distante feito pelo Homem. E agora, afirmam estes cientistas, começou a primeira exploração da nossa Galáxia para lá da influência do Sol. "É uma visão um tanto ou quanto controversa, mas pensamos que a Voyager finalmente deixou o Sistema Solar, e está realmente no início das suas viagens pela Via Láctea," afirma Marc Swisdak, autor principal de um novo artigo publicado esta semana na revista The Astrophysical Journal Letters. Swisdak e colegas James F. Drake, também da mesma universidade, e Merav Opher da Universidade de Boston, construíram um modelo da orla exterior do Sistema Solar que encaixa nas observações mais recentes, tanto esperadas como inesperadas. O seu modelo indica que a Voyager 1 na realidade entrou no espaço interestelar há pouco mais de um ano, um achado diretamente oposto aos recentes artigos publicados pela NASA e outros cientistas que sugerem que a sonda está ainda numa zona de transição vagamente definida entre a esfera de influência do Sol e o resto da Galáxia. Mas porquê a controvérsia? A questão está em saber como é o limite de cruzamento, a 18 bilhões de quilômetros de distância. A heliosfera é uma região do espaço relativamente bem compreendida, dominada pelo campo magnético e partículas carregadas emanadas pela nossa estrela. É desconhecida a estrutura e localização da zona de transição da heliopausa. De acordo com a sabedoria tradicional, ficaremos a saber se já passamos por esta fronteira misteriosa quando pararmos de ver partículas solares e começarmos a ver partículas galácticas, e também ao detectar uma mudança na direção predominante do campo magnético local. Os cientistas da NASA divulgaram recentemente que no verão passado, após oito anos de viagem através da camada mais externa da heliosfera, a Voyager 1 detectou "várias passagens por um limite diferente de tudo o já observado anteriormente." Estes mergulhos sucessivos, e posteriores recuperações, nas contagens de partículas solares, chamou a atenção dos investigadores. Os mergulhos na contagem de partículas solares correspondem a aumentos abruptos no número de elétrons e prótons. Em cerca de um mês, estes números de partículas solares desapareceram, e apenas permaneceram as contagens de partículas galácticas. No entanto, a Voyager 1 não observou mudanças na direção do campo magnético. Para explicar esta observação inesperada, muitos cientistas teorizam que a Voyager 1 entrou numa espécie de "zona de esgotamento" do invólucro heliosférico, mas que a sonda está ainda dentro dos limites da heliosfera. Swisdak e colegas, que não fazem parte das equipes científicas da Voyager 1, dizem que há outra explicação. Em trabalhos anteriores, Swisdak e Drake focaram-se na reconexão magnética, ou na quebra e reconfiguração de linhas do campo magnético. É o fenômeno suspeito de se esconder no coração das proeminências solares, nas ejeções de massa coronal e em muitos outros eventos altamente energéticos e dramáticos do Sol. Os investigadores argumentam que a reconexão magnética é fundamental para a compreensão dos dados surpreendentes da NASA. Embora muitas vezes descrita como uma bolha que contém a heliosfera e o seu conteúdo, a heliopausa não é uma superfície que separa perfeitamente o "fora" do de "dentro". De fato, Swisdak, Drake e Opher afirmam que a heliopausa é porosa para certas partículas e que tem uma complexa estrutura magnética em camadas. Aqui, a reconexão magnética produz um conjunto complexo de "ilhas" magnéticas aninhadas, laços independentes que espontaneamente surgem num campo magnético devido a uma instabilidade fundamental. O plasma interestelar pode penetrar na heliosfera ao longo das linhas de campo religadas, e os raios cósmicos galácticos e outras partículas solares misturam-se vigorosamente. Ainda mais interessante é que a queda nas contagens de partículas solares e os picos nas contagens de partículas galácticas podem ocorrer através de "encostas" no campo magnético, que emanam dos locais de reconexão, enquanto a direção do campo magnético permanece inalterada. Este modelo explica os fenômenos do verão passado, e Swisdak e colegas sugerem que a Voyager 1 ultrapassou a heliopausa no dia 27 de Julho de 2012. Num comunicado de imprensa da NASA, Ed Stone, cientista do projeto Voyager e professor de física no Instituto de Tecnologia da Califórnia, diz, em parte: "outros modelos vislumbram o campo magnético interestelar envolto em redor da nossa bolha solar e prevêm que a direção do campo magnético solar é diferente da do campo magnético solar no interior. Nessa interpretação, a Voyager 1 estaria ainda dentro da nossa bolha solar. O modelo de conexão magnética [de Swisdak e colegas] passará a fazer parte da discussão entre cientistas que tentam conciliar o que pode estar a acontecer numa escala mais fina com o que acontece numa escala maior. Trinta e seis anos após os seus lançamentos em 1977, as gêmeas Voyager 1 e 2 continuam a explorar onde nada da Terra voou antes. A sua missão principal foi a exploração de Júpiter e Saturno. Depois de uma série de descobertas - tais como vulcões ativos na lua de Júpiter, Io, e complexidades nos anéis de Saturno - a missão foi prolongada. A Voyager 2 explorou Urano e Netuno, e ainda é a única sonda a ter visitado esses planetas exteriores. A missão atual das duas sondas é explorar o limite exterior e para lá do domínio do Sol. Ambas as Voyager são capazes de enviar dados científicos a partir de uma ampla gama de instrumentos, com energia elétrica e combustível suficiente para se manterem operacionais até 2020. Espera-se que a Voyager 2 entre no espaço interestelar alguns anos após a sua sonda gêmea.
Fonte: Astronomia On-line
Fonte: Astronomia On-line
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