sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Fotografia feita com luz visível, de um planeta que gira em torno da estrela Fomalhaut


Olhar para o planeta Saturno, mesmo através de um modesto telescópio, parece um ato banal, mas é na realidade uma experiência inesquecível. Essa bolinha branca e gélida, no meio do nada, com os seus anéis perfeitamente visíveis que refletem na noite os raios de um Sol ausente, é tão familiar que quase parece que vamos conseguir tocar nela. Mas ao mesmo tempo, é uma visão tão estranha, a solidão do espaço é tão absoluta e a distância tão intransponível, que olhar para ele torna-se estonteante. Imagine agora o que sentiria se visse com os seus próprios olhos, pela primeira vez, planetas literalmente fora do sistema solar. Para alguns astrônomos, este é um cenário que já não precisam mais imaginar. “Ia tendo um enfarte”, diz Paul Kalas, da Universidade da Califórnia, em comunicado. “É uma experiência profunda e avassaladora colocar os olhos num planeta nunca antes visto.” Kalas fotografou com a sua equipe, com a luz visível, um planeta que gira em torno da estrela Fomalhaut (que em árabe significa “boca da baleia”), situada a 25 anos-luz da Terra, na constelação de Piscis Austrinus (Peixe Austral). Depois de anos de trabalho, os cientistas confirmaram que não se tratava de uma mera ilusão de ótica – e que o planeta Formalhaut b gira efetivamente em torno da estrela-mãe – que Kalas ia tendo um ataque, tal foi a emoção que sentiu ao ver algo de quase inimaginável até aí. A estrela que andava observando há 15 anos, desde os seus dias de estudante universitário, tinha acabado de lhe dar a surpresa da sua vida. A equipe de Kalas, utilizou um dos mais potentes telescópios existentes: o telescópio espacial Hubble da NASA, para estudar o disco de poeiras com 34.500 milhões de quilômetros de extensão que envolve a estrela. Desde 2005 que suspeitavam, dadas as características particulares dessa gigantesca estrutura, que ela escondesse um planeta. “A gravidade do planeta Fomalhaut b é a principal razão pela qual o disco de poeiras à volta de Fomalhaut tem a forma de um anel e está descentrado em relação à estrela”, diz Kalas. Agora, temos a prova direta.” Dos mais de 300 exoplanetas descobertos até hoje, nenhum tinha sido observado dessa forma. Os métodos habitualmente utilizados para detectar planetas em torno de outros sóis são indiretos, precisamente porque, como é fácil de perceber, os planetas são dificilmente visíveis. Em vez disso, os cientistas procuram por exemplo variações periódicas do brilho da estrela, que pode significar que algo está passando entre ela e nós, fazendo “sombra”. Este método, dito dos trânsitos, é uma das maneiras de descobrir planetas extra-solares. Outro consiste em detectar pequenas oscilações na posição de uma estrela, devido à ação da gravidade de um possível planeta. Só que o planeta Fomalhaut b teria sido impossível de detectar por estes métodos, porque é muito pequeno e está bastante longe da sua estrela para lhe provocar tremores (a 17 bilhões de quilômetros, dez vezes a distância de Saturno ao Sol). Demora 872 anos para completar uma órbita em torno de Fomalhaut e será preciso esperar muito tempo até ele passar entre nós e a estrela e perturbar a sua luminosidade. Foi por isso que os cientistas decidiram tentar ver o hipotético planeta à luz infravermelha. Qual não foi a sua surpresa quando Fomalhaut b surgiu nas imagens, não no inframervelho, onde se revelou invisível, mas em luz totalmente visível – no espectro ótico que os nossos olhos vêem naturalmente. “A descoberta em luz visível foi uma total surpresa”, diz Kalas. Por extraordinário que pareça, o planeta encontra-se suficientemente longe da estrela e é suficientemente brilhante para surgir nas duas fotografias que os cientistas obtiveram, em 2004 e 2006. Segundo um outro artigo que deverá ser publicado no “Astrophysical Journal” pela mesma equipe, o planeta tem uma massa compreendida em 0,3 e 2 vezes a de Júpiter. “Se fosse mais maciço do que isso”, diz o astrônomo, “a sua gravidade destruiria o vasto anel de poeiras em torno da estrela”. Diga-se de passagem que os cálculos que levaram a esta conclusão demoraram vários meses. Para os cientistas, uma das razões para o planeta ser visível em luz visível poderá ser a presença de “um sistema de anéis tão vasto que, em comparação, os de Saturno são uma miniatura”, diz Kalas. Fomalhaut b seria assim uma versão “juvenil” de Saturno, na época em que o Sistema Solar tinha apenas 100 milhões de anos.


Créditos: NASA & ESA

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