A sonda Cassini da NASA há muito que espia lagos de metano nos "trópicos" da lua de Saturno, Titã. Um destes lagos tropicais parece ter metade do tamanho do Grande Lago Salgado, no estado americano do Utah, e uma profundidade de pelo menos 1 metro. O resultado, que é uma nova análise de dados da Cassini, é inesperado porque os modelos tinham assumido que estes corpos líquidos apenas podiam existir nos pólos. Os achados aparecem na edição desta semana da revista Nature. De onde é que pode ter vindo o líquido destes lagos? "Uma fonte provável será aquíferos subterrâneos," afirma Caitlin Griffith, autora principal do artigo, que pertence à equipe da Cassini, da Universidade do Arizona, em Tucson, EUA. "Em essência, Titã pode ter oásis." Entender como lagos ou pântanos se formam em Titã ajuda os cientistas a aprender sobre o clima da lua. Tal como o ciclo hidrológico da Terra, Titã tem um ciclo de "metano" em vez de circulação de água. Na atmosfera de Titã, a radiação ultravioleta quebra o metano, iniciando uma cadeia de complicadas reações químicas orgânicas. Mas os modelos existentes não têm sido capazes de explicar a abundante quantidade de metano. "Um aquífero pode explicar uma das perguntas intrigantes acerca da existência de metano, que é continuamente esgotado," afirma Griffith. "O metano é um progenitor da química orgânica de Titã, que provavelmente produz moléculas interessantes como aminoácidos, os blocos de construção da vida." Os modelos de circulação global de Titã teorizam que o metano líquido evapora da região equatorial da lua e é transportado pelo vento para os pólos norte e sul, onde as temperaturas mais frias fazem com que o metano condense. Quando cai para a superfície, forma os lagos polares. Na Terra, a água é igualmente transportada por circulação, mas os oceanos também transportam água, contrariando assim os efeitos atmosféricos. Os resultados mais recentes vêm do espectrômetro de mapeamento visual e infravermelho da Cassini, que detectou as áreas escuras na região tropical conhecida como Shangri-La, perto do local onde a sonda Huygens da ESA aterrou em 2005. Quando a Huygens aterrou, o calor da sonda evaporou algum metano no solo, indicando que havia pousado numa área húmida. As áreas aparecem escuras para o espectrômetro de mapeamento visual e infravermelho quando etano ou metano líquido estão presentes. Algumas regiões podiam ser lisas, "poças" pouco profundas. O radar da Cassini mapeou lagos na região polar, mas não detectou quaisquer lagos a baixas latitudes. Os lagos tropicais detectados pelo espectrômetro de mapeamento visual e infravermelho mantiveram-se desde 2004. Apenas uma vez foi detectada queda de chuva e evaporação nas regiões equatoriais, e apenas durante a recente época esperada das chuvas. Os cientistas, portanto, deduziram que os lagos não poderiam ser substancialmente repostos pela chuva. "Pensamos que Titã simplesmente tinha grandes dunas no equador e lagos nos pólos, mas agora sabemos que Titã é mais complexa do que pensavamos," afirma Linda Spilker, cientista do projeto Cassini no JPL da NASA em Pasadena, na Califórnia. "A Cassini ainda tem várias oportunidades para passar por esta lua no futuro, por isso estamos ansiosos por ver como os detalhes desta história são preenchidos."
Créditos: Astronomia On-line
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