Pouco mais de uma semana após a grande bola de fogo ter passado pelos céus da região de Chelyabinsk na Rússia, astrônomos publicaram um artigo que reconstrói a órbita e determina as origens da rocha espacial que explodiu entre 14 e 20 km acima da superfície da Terra, produzindo uma onda de choque que danificou edifícios e quebrou janelas. Os investigadores Jorge Zuluaga e Ignacia Ferrin da Universidade de Antioquia em Medellin, Colômbia, usaram um recurso nem sempre disponível nas quedas de meteoritos: as inúmeras câmeras que capturaram o evento. Usando as trajetórias vistas nos vídeos colocados no YouTube, os investigadores foram capazes de calcular a trajetória do meteorito que caiu na Terra e usá-la para reconstruir a órbita no espaço do meteoróide antes do seu violento encontro com o nosso planeta. Os resultados são preliminares, e estão já trabalhando na obtenção de resultados mais precisos. "Estamos a trabalhar arduamente para produzir uma reconstrução atualizada e mais precisa da órbita utilizando evidências diferentes," afirma. Mas através dos seus cálculos, Zuluaga e Ferrin determinaram que a rocha é originária da classe de asteróides Apollo. Usando triangulação, os investigadores usaram dois vídeos em específico: o de uma câmera localizada na Praça da Revolução em Chelyabinsk e outro gravado na cidade vizinha de Korkino, bem como a localização de um buraco no gelo no Lago Chebarkul, a 70 km para Oeste de Chelyabinsk. Pensa-se que este buraco foi provocado pela queda de um dos pedaços de meteorito. Zuluaga e Ferrin foram inspirados a usar os vídeos por Stefen Geens, que escreve o blog Ogle Earth e que salientou que as inúmeras câmeras podem ter recolhido dados suficientes acerca da trajetória e velocidade do meteorito. Ele usou estes dados e o software Google Earth para reconstruir o percurso da rocha à medida que entrava na atmosfera e mostrou que correspondia com uma imagem da trajetória obtida pelo satélite meteorológico e geoestacionário, Meteosat-9. Mas, devido a variações de tempo e de data presente em vários vídeos - onde alguns diferiam por vários minutos - decidiram escolher dois vídeos de diferentes locais que pareciam ser os mais confiáveis. Graças à triangulação, foram capazes de determinar a altura, velocidade e posição do meteorito à medida que caía para a Terra. Mas a descoberta da órbita do meteoróide em torno do Sol foi mais difícil, assim como menos precisa. Precisaram de seis parâmetros críticos, e tiveram todos que ser estimados usando métodos para "calcular os parâmetros orbitais mais prováveis e a sua dispersão," escrevem no seu artigo. A maioria dos parâmetros estão relacionados com o "ponto de brilho" - onde o meteorito se torna brilhante o suficiente para provocar uma sombra visível nos vídeos. Isto ajudou a determinar a elevação do meteoro e azimute no ponto de brilho, bem como a longitude, latitude sobre a superfície da Terra e também a velocidade da rocha. "De acordo com as nossas estimativas, o meteoro Chelyabinski começou a iluminar-se quando estava entre 32 e 47 km na atmosfera," escreve a equipe. "A velocidade do corpo, prevista na nossa análise, situava-se entre os 13 e os 19 km/s (relativamente à Terra), que inclui o número preferido de 18 km/s, assumido por outros investigadores." Usaram então software desenvolvido pelo Observatório Naval dos EUA, chamado NOVAS (Naval Observatory Vector Astrometry Sofware), para calcular a órbita provável. Concluíram que o meteorito Chelyabinsk pertence à classe Apollo de asteróides, uma classe bem conhecida de rochas que atravessam a órbita da Terra. Os astrônomos já observaram mais de 240 asteróides Apollo, maiores que 1 km, mas acreditam que devem existir mais de 2.000 com este tamanho. No entanto, os astrônomos também estimam que podem haver cerca de 80 milhões lá fora, do mesmo tamanho do que caiu na Rússia: cerca de 15 metros em diâmetro, com uma massa de 7.000 toneladas. Nos seus cálculos, em curso, a equipe de pesquisa decidiu fazer cálculos futuros que não usam o Lago Chebarkul como um dos seus pontos de triangulação. "Estamos familiarizados com o ceticismo de que os buracos no lago gelado foram produzidos artificialmente," afirma Zuluaga. "No entanto, também já li relatos que indicam que pedaços do meteoróide foram encontrados na área. Estamos então trabalhando para produzir uma reconstrução atualizada e mais precisa da órbita usando diferentes evidências." Muitos têm perguntado porque é que esta rocha não foi detectada anteriormente, e Zuluaga disse que a determinação do porquê é um dos objetivos dos seus esforços. "Infelizmente o conhecimento da família a que pertence o meteoróide não é suficiente," afirma. "A questão só pode ser respondida com uma órbita muito precisa que podemos integrar para trás pelo menos 50 anos. Assim que temos uma órbita, essa pode prever a posição precisa do corpo no céu e podemos estudar imagens de arquivo para saber se o asteróide foi 'esquecido'. Este é o nosso próximo passo!"
Fonte: Astronomia On-line
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